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História do teatro




O Teatro até à Idade Média
O teatro é uma das mais antigas expressões artísticas do Homem, que sempre lhe dedicou espaços arquitetônicos notáveis, principalmente na Época Clássica e, depois, no Renascimento, até aos nossos dias. Pode ter nascido já no III milênio a. C., no Antigo Egito, com as celebrações em torno dos momentos marcantes da figura do faraó,principalmente naquilo que o dinamizava ou fazia dele senhor das suas terras e súbditos. Esta sacramentalidade vigorará na Antiguidade Clássica, quando se representavam as façanhas dos deuses, como Dioniso, ou tragédias e episódios da criação do Homem e do mundo. Recorde-se que o termo teatro para os Gregos, como para os Romanos, designava o espaço cênico e o espaço da assistência, o conjunto arquitetônico onde se desenrolariam gêneros como o drama ou tragédia, a comédia, os enredos, etc.
A tragédia foi o gênero que mais cedo ganhou notoriedade, porque era considerado também o único representável,como renovação do indivíduo através da morte ou do sofrimento. Os maiores autores de tragédias foram os atenienses do século V a. C. Ésquilo, Sófocles e Eurípides. Fatalista, heroico, musical também, convidativo à meditação e à filosofia, para Ésquilo era o coro o principal elemento cênico na obra teatral. Sófocles surgiu já como um tragediógrafo mais próximo do ideal do cidadão, conciliando poesia, política, ideais de cidadania e espírito atlético, numa versão mais humanizada da tragédia. Ambos os autores se mantiveram sempre dentro do cânone da tragédia, o que já não fez Eurípides, mais revolucionário e vanguardista, pois pretendia, por exemplo, desagrilhoar o indivíduo da religião e das instituições. Veio depois a comédia, com Aristófanes, por exemplo, mas como instrumento de sátira e crítica do mundo,de idealismo político e vivencial. Depois do século IV, surgiria a "nova comédia", com Filémon e Menandro, mais trivial e divertida, como fariam os Romanos com o grande Plauto, um criador de gêneros cômicos, mas sempre crítico e reflexivo.
Na Índia, onde o teatro engloba também a dança, a expressão corporal e o canto, a representação servia principalmente para relatar epopeias e histórias das origens, num esplendor de expressões e sentimentos. A canção e a dança eram também importantes no teatro da China antiga. O argumento tinha pouca importância, valendo mais as cenas em si, com o seu movimento. No Japão, é de realçar o teatro de marionetes, frequente a partir do século XVIII.
No Ocidente, entretanto, com a queda do Império Romano, também o teatro desapareceu até perto do ano mil, altura em que surgiram os jograis itinerantes com as suas canções e enredos cômicos e satíricos. Mas o teatro religioso foi aquele que mais marcou a Idade Média, tendo tido a sua origem nos dramas litúrgicos em Latim, que eram talvez representados nas escolas catedralícias ou monásticas por mestres e estudantes. Os clérigos, nas grandes festas religiosas, representavam estes dramas nos santuários, o que é assinalado desde o século XI na Alemanha, França e Inglaterra. O século XI trará as línguas vulgares e o profano ao teatro medieval, nos quadros das igrejas com atores laicos a representar. Estamos no tempo dos mistérios (temas do Antigo ou Novo Testamentos), dos milagres (das vidas de santos), dos autos, das moralidades (os temas mais recorrentes eram a morte, o desejo e a fé), dramas onde muitas vezes surgiram temas escatológicos e milenaristas (por exemplo, o Jogo do Anticristo, da Baviera do século XI,ou Esposo, drama francês do século XII). Recordem-se nomes como os do francês do século XV, Arnoul Gréban (o seu Mistério da Paixão demorava quatro dias a representar e tinha mais 35 000 versos!), ou de Duzentos, o também francês Rutebeuf, com o seu Milagre de Teófilo. A Idade Média também tinha "teatro" cômico, com as farsas. Em Portugal,surgiu, em finais do século XV e meados da centúria seguinte, o teatro de Gil Vicente, de gosto medieval mas, de certa forma, de temática profana já renascentista. 
O Teatro do Renascimento às Luzes
O Renascimento, de facto, foi a idade de ouro do teatro europeu. Apesar das limitações ao profano que o Concilio de Trento logo em 1548 tentou impor, o teatro perdeu a sua quase exclusiva componente sacra da Idade Média. Assumiu-se cada vez mais como "teatro popular", mas já mais "profissionalizado", com a comédia separada da tragédia e com os autores a ganharem importância e independência criativa. O caráter sacro não se perdeu, porém, principalmente em Espanha (com os seus autos sacramentares). A comédia ganhou novo alento na Itália, graças à influência do folclore,assistindo-se ao apogeu da commedia dell´arte, com a Pulcinella ou o Pantalone, que influenciaria imenso vários autores, como, por exemplo, Molière. O teatro "nacional" desenvolveu-se, principalmente em Inglaterra e Espanha,evocando as memórias antigas e os feitos e grandezas do passado, misturando o mundo da cavalaria com os clássicos redescobertos. Isso mesmo pode ver-se em Shakespeare, um autor do seu tempo e dos tempos antigos, com o seu Falstaff, por exemplo.
Os quadros das igrejas eram entretanto substituídos por novos "palcos", mais profanos, mais concorridos e com públicos mais diversificados: da estalagem às praças, das feiras aos salões reais. Aparecem as companhias, os gêneros, os guarda-roupas e cenários, e até lucro com os bilhetes das peças, por via de investimentos importantes, mecenato ou atores particulares (reis, famílias...). Os grandes autores deste teatro renascentista foram, para além de Shakespeare, Lopes de Vega e Marlowe, Beaumont, Fletcher ou Ben Jonson, entre outros.
O teatro não mais deixou de ganhar em fulgor e redescoberta, apurando-se gêneros como a comédia, principalmente,graças a autores como Marivaux e Beaumarchais, em França, ou Goldoni, em Itália. A ópera, uma das grandes paixões do século XVIII, conferiu ainda mais força ao teatro. A tragédia, que evoluiu mais para o drama e para o melodrama,declinou nos séculos XVII e XVIII, pois mantinha ainda um profundo sentimento social e religioso. A tragédia heroica, de Corneille ou Racine, será uma exceção a esse declínio.
Na segunda metade do século XVIII, com Voltaire, o teatro adapta-se à sua época, simplificando-se cenicamente, em relação à ópera, principalmente. Se o repertório é ainda o do século XVII, de Racine, Shakespeare, Molière, dos espanhóis, os espaços são já diferentes, mais apropriados e dignificados cenicamente, tanto em teatros como em palácios ou abadias imperiais (como Einsiedeln, dos Esterházy). Entretanto, o século XVIII verá nascer dois novos gêneros, a comédia sentimental, com o irlandês Steele, e a tragédia doméstica, com o inglês Lillo.

O Teatro do Romantismo à atualidade
O Romantismo irá, no entanto, pôr de lado os cânones barrocos e rococós, conformistas e desadaptados aos novos tempos. O teatro romântico ganhou notoriedade com figuras como Victor Hugo (Hernâni), Zorrilla (D. Juan) ou Rostand(Cyrano), para além dos alemães Goethe e Schiller. Se os primeiros revisitam valores antigos, figuras alegóricas e folclóricas, sob uma nova roupagem nacionalista ou exemplaridade, os segundos partem para a procura do Homem em se conhecer a si próprio. O teatro romântico chegou também à Rússia, com Pushkin e o seu Boris Godunov. Em Portugal, destaca-se o mais notável exemplo de teatro romântico: Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett (1843).
Surgirão, depois, o Realismo e o Naturalismo, em finais do século XIX, com Ibsen, Tchekov ou Strindberg, Galsworthy eO´Casey. O indivíduo libertava-se de amarras morais e éticas desadequadas aos novos tempos e à condição humana,rompendo com determinismos estáticos e inertes, valorizando-se como ser social. O Expressionismo, de certo modoantirrealista em termos de teatro, surge no primeiro quartel do século XX, baseado na valorização cénica como modode reprodução de ideias, na mecanização da sociedade e no repensar da importância do subconsciente e dainterioridade psíquica do indivíduo. A Alemanha foi o país onde o Expressionismo teve maior força, com autores comoWerfel, Kaiser ou Toller.
No Teatro Contemporâneo, cujo início pode coincidir com a Primeira Guerra Mundial, há que recordar a comédia social,criticamente mordaz mas divertida, como se vê em Somerset Maugham, Molnar e o magistral Bernard Shaw, com assuas figuras-tipo em confronto com as velhas e deturpadas ideias românticas da sociedade. Depois virá Elliot, comvalores renovados como o heroísmo, a confiança e até a religião, ou até Miller e Tennessee Williams, nos EUA, e GarciaLorca, em Espanha, que valorizavam a realidade social e histórica nas suas obras. Em França, surgirão Anouilh, Camus eSartre, depois do "teatro psicológico e experimental" de Jean Cocteau ou Mauriac. Os primeiros, autoresexistencialistas, privilegiavam a procura da personagem como sujeito de decisões morais. Pirandello, em Itália, era umareferência nesta altura, como os existencialistas Favri e Buzzati. Todavia, a maior figura do teatro do século XX foi oalemão Brecht, que procurava a "desintoxicação do Homem". Em Portugal, destaquemos, depois da Segunda GuerraMundial, Alves Redol, Jorge de Sena ou Bernardo Santareno, entre tantos outros autores da questão social doExistencialismo. Entretanto, surgiu a Vanguarda, nos anos 50, com os ingleses Pinter, Osborne e Behan, com o seuteatro do realismo social, que teve nos franceses Beckett (irlandês, mas escrevendo em francês), Adamov eprincipalmente Ionesco (com o seu "teatro do absurdo") os seus maiores expoentes, que valorizaram a situação emdetrimento do carácter. Tardieu, Genet e Arrabal manterão vivo este teatro de Vanguarda em finais do século XX.
Entretanto, há que referir o teatro infantil, que desde sempre existiu, da China Antiga à Inglaterra de finais do séculoXVI, mas que ganhará relevo com a importância que a criança adquiriu no século XIX, principalmente nos regimescomunistas, como sucedeu na ex-URSS com o célebre Teatro Infantil de Moscovo, dirigido por Natalie Satz na primeirametade do século XX. Muitas outras companhias surgiram nesse século em todo o mundo, recriando velhos clássicoscomo Peter Pan, Alice no País das Maravilhas e Branca de Neve, como não deixou de suceder em Portugal, onde, comono resto do mundo, surgiram autores especializados em teatro infantil.

Como referenciar este artigo:
História do teatro. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-11-19].

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